Para além das tecnologias e dos avanços científicos necessários, viagens espaciais — especialmente as de longa duração — podem ser um grande desafio para a biologia humana. Por exemplo, pesquisas já apontaram para alterações no tamanho do coração de astronautas, após uma temporada na microgravidade. Agora, a NASA estuda os eventuais efeitos negativos na coluna vertebral de uma tripulação.
Astronautas precisarão se exercitar para evitar a perda óssea em viagens longas, como Marte (Imagem: Reprodução/Tumisu/Pixabay) |
Sem a pressão contínua da gravidade, os tecidos dos ossos — que são vivos e estão em constante transformação celular — podem perder densidade com o decorrer das semanas. Para entender esses efeitos, nove astronautas que viajaram para a Estação Espacial Internacional (ISS) foram digitalizados antes e depois de uma expedição de seis meses no espaço.
Dependendo das evidências que serão descobertas, é possível que a tripulação ganhe uma nova série de exercícios físicos diários para manter a resistência óssea na ISS. Afinal, uma fratura de um osso de um astronauta pode ser muito mais complexa em um ambiente de microgravidade e onde não há hospitais.
O que acontece com os ossos no espaço?
Dados preliminares apontam que a cada mês no espaço, os ossos dos astronautas se tornam cerca de 1% menos densos e, para evitar esse dano, uma série de medidas devem ser adotadas. Isso porque os ossos se remodelam em um processo onde os tecidos mais velhos são descartados, mas a construção de novos é retardada pelo efeito da microgravidade. Como a perda óssea é maior que a reposição, os ossos se tornam mais fracos. Em paralelo, os músculos também atrofiam, já que trabalham menos, dependendo das condições da gravidade.
Diante dessas questões, a biomédica e pesquisadora da Universidade Wake Forest, nos EUA, Ashley Weaver, lidera o estudo da NASA sobre a perda óssea, durante as viagens espaciais. “A saúde da coluna vertebral é essencial para o controle da postura e facilita os movimentos do tronco central necessários para todas as atividades na missão”, explica Weaver. “Portanto, é fundamental que entendamos como essas mudanças musculares são influenciadas pela exposição de longa duração à microgravidade”, comenta.
Pesquisa com astronautas, ossos e músculos.
No momento, a equipe de Weaver compara as varreduras detalhadas da coluna vertebral dos astronautas antes e depois da temporada na ISS. Nos dois momentos, a tripulação passou por uma série de exames, como tomografia computadorizada quantitativa (HR-pQCT) para verificar mudanças na densidade óssea e na dimensão dos músculos.
Além disso, foram feitas imagens por ressonância magnética. Neste exame, alterações podem revelar o nível de atrofia dos músculos, o que é possível de ser observado através do acúmulo de tecido adiposo no músculo e em mudanças diretas no seu tamanho. Para a pesquisadora, é importante entender, de forma combinada, modificações nos ossos e nos músculos, porque não existem soluções individuais, apenas complementares.
Assim que as avaliações forem concluídas, a equipe se reunirá e discutirá novas estratégias para, no mínimo, diminuir esses efeitos da microgravidade no corpo dos astronautas. "Agora, que todo o escaneamento está completo, estamos ansiosos para aprender quais mudanças ósseas e musculares ocorrem durante as missões espaciais e como elas se relacionam com o risco de lesões", completa Weaver. Mesmo que as mudanças sejam sutis, elas podem — e, provavelmente, serão — maiores em viagens mais longas, como a ida do ser humano até Marte.
0 Comentários