Novos dados recolhidos pela sonda Dawn, da NASA, confirmaram que os
misteriosos pontos brilhantes desta rocha esférica têm grandes
quantidades de carbonato de sódio – ou seja, sal.
Ceres está no nosso sistema solar, num cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Começou por ser um planeta, depois foi considerado um asteroide e, finalmente, ficou classificado como um planeta-anão. Há pouco mais de uma década, o telescópio espacial Hubble revelou algo especial em Ceres que intrigou e entusiasmou os cientistas: na superfície desta rocha cinzenta com um diâmetro de 950 quilômetros existiam pontos brilhantes. Desde essa altura, que o brilho do planeta-anão tem ocupado os investigadores, que inicialmente pensaram que estariam a olhar para o efeito de gelo. Agora, novos dados enviados pela sonda Dawn, da NASA, e publicados esta semana nas revistas Nature e Nature Geoscience permitiram concluir que, afinal, estes pontos brilhantes são o resultado de elevadas concentrações de um sal, mais precisamente de carbonato de sódio.
A superfície mais escura de Ceres está marcada por
mais de 130 pontos brilhantes que surgem nas imagens como luzes num
fundo cinzento. O maior ponto luminoso chamado Spot 5, formado por um
grupo de manchas brilhantes, está situado na cratera de impacto Occator,
que tem 92 quilômetros de largura e quatro de profundidade. Em Dezembro
de 2015, as imagens e outros dados recolhidos pela sonda Dawn já tinham
levado os cientistas a concluir que as luzes seriam o resultado de
grandes depósitos de sais. No artigo publicado nessa altura também na Nature os
cientistas avançavam com a hipótese de existir igualmente uma camada de
gelo sob a superfície de Ceres. Os pontos luminosos seriam locais
atingidos por meteoritos que romperam a superfície de Ceres e expuseram a
camada que estava por baixo, permitindo que a água passasse para o
estado gasoso e sobrassem apenas sais.
Agora, uma equipe
internacional de cientistas, liderada por Maria Cristina de Sanctis, do
Instituto Nacional de Astrofísica em Itália, publica um artigo na Nature que
confirma a presença destes grandes depósitos de sal, misturados com
pequenas quantidades de silicatos e de carboneto e cloreto de amônio.
Os
investigadores analisaram os dados recolhidos pelo espectrômetro VIR
(Visible and InfraRed, que está a bordo da sonda Dawn) a uma distância
de 1400 quilômetros de Ceres. Segundo adiantam, estes compostos foram
transportados do interior do planeta-anão para a sua superfície e são
resíduos sólidos de uma cristalização de salmoura, desencadeada por uma
fonte de calor transitória. A outra hipótese, admitem, é o interior de
Ceres possuir uma temperatura acima da das camadas de superfície, o que
poderia significar que ainda hoje existem fluidos nas partes mais
profundas do planeta-anão.
O outro trabalho na Nature Geoscience conclui
que as grandes crateras de Ceres são demasiado profundas para se
considerar a hipótese de as camadas abaixo da sua superfície serem
feitas de gelo. Segundo este grupo de investigadores liderado por
Michael Bland, do Centro de Ciência de Astrogeologia do Arizona (EUA), a
subsuperfície do planeta-anão será composta por apenas 30 a 40% de
gelo. O resto será uma mistura de rocha com outro material forte mas de
baixa densidade. Talvez sais hidratados.
A sonda Dawn entrou em
órbita de Ceres a 6 de Março do ano passado, após um périplo de sete
anos e meio. Demorou vários dias a integrar-se na sua primeira “órbita científica circular”, a uns 13.500 quilômetros de altitude, e foi só a 27 de Abril que a missão teve oficialmente início.
O
objetivo da missão, cujo custo é de 446 milhões de euros, é testar a
teoria segundo a qual Ceres seria uma espécie de “embrião” de um planeta
rico em água – uma relíquia do nascimento do sistema solar, há 4500
milhões de anos. Ceres demora o equivalente a 4,61 anos terrestres a dar
a volta ao Sol. Foi observado pela primeira vez em 1801 pelo astrônomo
italiano Giuseppe Piazzi, que lhe deu o nome da deusa romana da
agricultura.
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