Se um telescópio fosse capaz de enxergar o universo a mais de 13 bilhões de anos atrás, quando só existiam gases provenientes do Big Bang, o que ele veria? Se depender da NASA, esse mistério será decifrado em breve. Cientistas e astrônomos planejam instalar observatórios lunares já nos próximos anos e, atualmente, dois projetos estão em estudo: o Lunar Crater Radio Telescope (LCRT) e o Farside Array for Radio Science Investigations of the Dark Ages and Exoplanets (FARSIDE).
Ambos os projetos têm algumas particularidades, mas, em suma, compartilham a mesma ambição: ser o primeiro telescópio instalado na Lua, mais precisamente no lado escuro dela. Ao lado deles, está o fato de que já há missões partindo para lá, e elas poderiam levar os equipamentos necessários para a construção dos observatórios.
Atualmente, há um espectrômetro já construído e com lançamento previsto para o início de 2022. Conhecido como Radiowave Observations at the Lunar Surface of the photoElectron Sheath (ROLSES), o instrumento vai estudar como a luz solar carrega a leve atmosfera lunar. Com isso, o próximo passo é chegar ao lado escuro da Lua.
"Essa ideia existe desde o início das missões tripuladas à Lua, em 1960", disse o técnico de robótica Saptarshi Bandyopadhyay, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA em Pasadena (Califórnia-EUA), em uma entrevista concedida ao site United Press International. "Só agora temos a tecnologia robótica para fazer isso muito mais barata do que nunca e muitas novas missões lunares planejadas", ele disse.
As missões lunares incluem uma série de rovers e landers que ajudarão a preparar a NASA e a Lua para visitas humanas novamente, mas as missões também levarão equipamentos científicos, como os telescópios. A meta da agência espacial é levar pessoas à Lua novamente em 2024, mas a agência ainda não recebeu o financiamento que solicitou ao Congresso.
Quando o financiamento estiver disponível, construir um telescópio em uma cratera lunar será mais simples do que construir uma estrutura semelhante na Terra, segundo Bandyopadhyay. "Suspender algo na Lua é significativamente mais fácil, porque ela tem 1/6 da gravidade da Terra", explicou o especialista.
O projeto transformaria uma cratera lunar com cerca de meia milha de diâmetro (quase 1 quilômetro) em um observatório, construindo um receptor e estendendo uma tela metálica ao longo das paredes do buraco. Estudos indicam que os componentes podem ser transportados para a Lua em uma única missão. O plano ousado já recebeu 500 mil dólares para estudos adicionais, e os cientistas da NASA propõem o uso de robôs ou rovers para implantar a malha.
O projeto – que em tradução livre significa "Investigações de Radiociência da Idade das Trevas e Exoplanetas no lado distante" (com "Idade das Trevas" se referindo ao período astronômico em que não existiam estrelas) – planeja estender fios e sensores por uma enorme área de 6 milhas de diâmetro (quase 10 quilômetros) no lado escuro da Lua. A ideia também é implantá-los utilizando robôs.
Quem ganha?
Até agora, a NASA não decidiu qual dos dois observatórios lunares funcionaria melhor ou se ambos seriam necessários, segundo o professor de astrofísica Jack Burns, da Universidade de Colorado em Boulder (EUA), e principal investigador do FARSIDE.
A NASA acredita que ambas as propostas poderiam ser realizadas com meros milhões de dólares em comparação com os bilhões que esses telescópios poderiam custar na Terra.
Para Burns, um radiotelescópio no outro lado da Lua ficaria tão isolado da luz e da radiação da Terra que poderia captar ondas de rádio de baixa frequência que sobraram do "amanhecer do universo". Então, caso a NASA consiga levar ao menos um dos projetos em frente, quem deve ganhar é a humanidade – em forma de conhecimento.
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