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50 anos da Apollo 15, tudo sobre o carro que a NASA usou na superfície da Lua.

Você sabia que, caso fossemos à Lua neste exato momento, poderíamos encontrar carros por lá? E justamente a Apollo 15 deve muito de sua importância para a ciência ao ser a primeira missão espacial que levou (junto aos astronautas David R. Scott, Alfred M. Worden e James B. Irwin) um veículo de exploração lunar, mais conhecido como "rover". Durante os dois dias de exploração em nosso satélite natural, ele foi o grande responsável pela coleta de materiais valiosos — e que são estudados pelos cientistas até hoje.

Scott e Irwin, os responsáveis pela exploração na superfície, se locomoveram pela Lua com toda a segurança e conforto graças ao veículo, e devem isso ao trabalho primoroso dos engenheiros e técnicos da Boeing e da General Motors, empresas responsáveis pelo desenvolvimento desse rover. O êxito da missão foi tamanho, que a NASA repetiu a dose nas missões Apollo seguintes, enviando mais dois rovers à Lua — um na Apollo 16, em 1972; outro na Apollo 17, também em 1972.
Por mais que as funções do rover da Apollo 15 fossem bastante básicas, seu funcionamento e desenvolvimento exigiram muito estudo por parte da Boeing e da GM, já que uma coisa é dirigir na Terra e outra completamente diferente é se locomover na Lua, onde a atração da gravidade é muito menor do que a de nosso planeta. E como a segurança dos astronautas era um quesito primordial, as empresas tiveram muito trabalho para chegar a um veículo que conseguisse fazer tudo isso e ainda ser confiável.
O mais curioso é que, ao analisar bem o que os rovers lunares da era Apollo tinham, acharemos muitas características de veículos que atualmente estão em nossas ruas e estradas, sobretudo quando olhamos para os utilitários e picapes com pegada mais off-road — ou seria melhor dizer, off-Earth? Os materiais escolhidos para a construção desses veículos, a maneira como as rodas se comportam e todo o cálculo de peso para abrigar os astronautas são conceitos até hoje utilizados na indústria automotiva.
Deles, hoje, só restam lembranças, já que todos os modelos utilizados nas missões Apollo foram deixados na Lua. Mas, décadas depois, a humanidade voltará à superfície lunar com o atual Programa Artemis, também da NASA. Será que alguma missão do programa pretende localizar os rovers do Programa Apollo e nos presenteará com fotos atuais deles? Será que eles ainda podem ser dirigidos por lá depois de tanto tempo?

Como funcionava o rover da Apollo 15?

O primeiro veículo lunar levado à Lua foi construído pela Boeing em parceria com a General Motors, parceiras de longa data da NASA. O veículo necessário para as missões no satélite natural precisava ser leve o suficiente para ir a bordo da nave, mas também forte e resistente; afinal, o terreno lunar não é dos mais fáceis e, por mais que a Lua já tivesse sido visitada anteriormente, muitas incertezas pairavam nesse desenvolvimento. O protótipo enviado na Apollo 15 passou por inúmeros testes de estresse antes da viagem. Geralmente, a NASA testa novos veículos aqui na Terra antes de qualquer coisa, normalmente em desertos e regiões onde o solo se assemelhe com o do destino (no caso, a Lua).
O rover lunar era movido por motores elétricos de 0,18 kW (o equivalente a 0,1cv), que ficavam alocados em cada uma das rodas, fazendo com que ele fosse o que chamamos de 4x4. Para levar essa força até elas, havia uma transmissão automática com relação de 80:1 — ou seja, não dava nem para considerar que ele havia marchas. Pela dificuldade do terreno, a General Motors optou por favorecer o torque do motor, em vez de dar mais potência; assim, ele conseguiria subir ladeiras e, eventualmente, sair de crateras com mais facilidade.
Suas medidas também favoreciam um bom trabalho — além da logística. Ele pesava por volta de 200 kg e tinha peso máximo operacional de 480 kg, já considerando os dois astronautas a bordo, e tinha 36 cm de vão livre do solo, fazendo inveja a muitos SUVs do mercado atual. Além disso, ele precisava carregar equipamentos de suporte à vida, sistemas de comunicação, ferramentas científicas e as amostras que eventualmente fossem recolhidas do solo.
Com tudo carregado, os motores davam ao rover lunar a capacidade de circular a uma velocidade máxima de 13 km/h, com força o suficiente para fazer com que ele subisse ladeiras de até 25º de inclinação, sempre levando em conta a baixa gravidade. Eles eram abastecidos por duas baterias de prata e zinco, que, juntas, davam ao veículo uma autonomia de 92 quilômetros, o suficiente para as missões dos astronautas nas três vezes em que esses carros foram utilizados.
Modularidade e leveza
Por mais leve que o rover fosse, não havia muito espaço no foguete para levar o veículo em sua montagem final. Por isso, os engenheiros da General Motors e da Boeing fizeram com que ele tivesse um chassi modular, podendo ser totalmente dobrado, o que reduziu suas medidas para 900 mm x 1500 mm x 1700 mm. A preocupação com o espaço a bordo do fouete era tão latente que o veículo sequer tinha um volante, sendo comandado por um joystick.
Para ajudar no peso e, ao mesmo tempo, garantir uma boa navegação off-road, as rodas do rover foram construídas com base em uma rede de cordas de piano revestidas de titânio, que, pasmem, são mais leves do que as comumente usadas borrachas. Resultado: um veículo leve e, ao mesmo tempo, parrudo.
Algo que foi espantoso na época — e ainda é hoje — sobre o rover lunar da Apollo 15 eram seus equipamentos de segurança e localização. Em suas três versões, ele ostentava aparelhos como giroscópio, hodômetro, rádio de comunicação e câmeras para fotografias da Lua.
Mas o mais surpreendente era que o carrinho tinha um sistema de computador de bordo que conseguia informar qual era a distância do veículo para o módulo lunar. Foi um feito e tanto, até porque somente nos tempos mais atuais é que as montadoras conseguem oferecer uma comunicação confiável entre smartphones e carros. Ou seja: a tecnologia do rover da Apollo 15, desenvolvida pela GM e pela Boeing, foi extremamente engenhosa para sua época.

Outros rovers lunares do Programa Apollo.

Além do rover da Apollo 15, a NASA enviou outros dois nas missões seguintes, Apollo 16 e Apollo 17. Segundo a agência, cada um deles custou algo na casa dos US$ 38 milhões. Na soma dos três rovers enviados à Lua, foram percorridos 90,5 quilômetros, com a maior distância obtida, a partir do módulo lunar, acontecendo na Apollo 17, cujo veículo andou por 7,6 quilômetros.
Veículos lunares do futuro
O próximo programa lunar da NASA está em desenvolvimento — e também contará com novos veículos lunares. Trata-se do Programa Artemis, que será composto por diversas missões (assim como aconteceu no Apollo) e que levará novos astronautas à superfície da Lua em 2024, com a missão Artemis III.
A agência espacial conta com diversas empresas privadas nessa missão de desenvolver os novos veículos lunares, e uma delas é a empresa aeroespacial Lockheed Martin, além da antiga parceira General Motors. As duas empresas, por sinal, estão trabalhando na criação de um veículo lunar autônomo, que contará com um motor elétrico.

Em paralelo ao programa lunar norte-americano, outras agência espaciais também têm seus planos. É o caso da japonesa JAXA, que conta com a Toyota no desenvolvimento de um rover lunar movido a células de combustível e energia elétrica, que também deve ser usado em explorações na Lua até o final da década.
Chamado Lunar Cruiser (nome inspirado no Land Cruiser, SUV de luxo da montadora japonesa), este rover lunar será capaz de transportar astronautas pelo terreno lunar a bordo de uma cabine pressurizada — ou seja, será como fazer um passeio com um veículo recreativo, só que na Lua.


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