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Fungos em Marte ?

Em fevereiro, a NASA pousou o rover Perseverance na cratera Jezero, em Marte, para estudar a região em busca de sinais que podem ter sido deixados por formas de vida microbianas, caso tenham existido no passado distante do planeta. Agora, com base em imagens, uma equipe de pesquisadores alega que outros rovers da agência espacial podem ter encontrado formas de vida relativamente avançadas por lá — mas uma afirmação dessas tem dimensões enormes, de modo que precisa ser analisada com bastante cautela.
Eles trabalharam com imagens feitas pelos rovers Curiosity e Opportunity, junto de outras produzidas pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), e argumentam ter encontrado evidências fotográficas de organismos semelhantes a fungos, sendo que alguns seriam bastante semelhantes a uma espécie abundante na Terra. Segundo a equipe, “imagens sequenciais documentam que espécimes semelhantes a fungos emergem do solo e aumentam de tamanho”.


Além disso, mesmo após alguns dos “espécimes” serem obliterados pelas rodas do veículo, outros deles teriam surgido na parte superior dos caminhos abertos pela roda dos veículos. Já as imagens da câmera HiRISE, a bordo da sonda MRO, teriam mostrado evidências de “espécimes amorfos” dentro de uma fenda. De acordo com os pesquisadores, estes espécimes mudaram suas formas e localizações, sumindo logo em seguida.

Eles propõem que essas formas de vida marciana “teriam evoluído e se adaptado às baixas temperaturas, baixas quantidades de oxigênio, água intermitente e alto nível de radiação”. Portanto, a equipe afirma que, ao considerar as chances de a Terra ter levado formas de vida para Marte com equipamentos que pousaram na superfície, seria uma surpresa não haver nenhum tipo vida em nosso vizinho. Mas, novamente: apesar de instigar a curiosidade e parecerem animadoras, essas colocações exigem cuidado.

Essa não é a primeira vez que pesquisadores alegam ter encontrado "provas" fotográficas de vida no Planeta Vermelho: em 2019, William Romoser, professor emérito de arbovirologia na Universidade de Ohio, analisou imagens feitas pelos rovers da NASA e afirmou haver "vida semelhante a insetos e répteis" por lá, com base no que viu nos registros feitos pelos veículos. Essa conclusão — errônea, vale ressaltar — veio a partir da interpretação dele das imagens.

Na época, David Maddison, professor de biologia da Universidade Estadual do Oregon, considerou que as observações de Romoser são fruto do fenômeno chamado pareidolia — o que parece ser também o caso dos pesquisadores do novo estudo. Trata-se de um fenômeno causado por um mecanismo cerebral em que as pessoas veem dados aleatórios e, neles, reconhecem algum tipo de padrão — tanto que é assim que as nuvens parecem ter formas de objetos e animais, ou que itens domésticos podem parecer ter "rostos".

Assim, estas observações que os pesquisadores fizeram a partir das imagens não permitem concluir que, de fato, as formações pertençam a formas de vida em Marte — tanto que eles próprios alertam no estudo que “semelhanças na morfologia não são provas de existência de vida”. Além disso, a equipe afirma que podem haver outros processos envolvendo minerais, forças geológicas e até processos exclusivos de Marte que são desconhecidos na Terra, mas que podem ter originado aquelas formações que eles observaram. O artigo, que ainda não passou pela revisão de pares para ser aceito em algum periódico científico, pode ser acessado aqui.

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